A qualidade de um produto na atualidade não é mais um diferencial, mas sim, uma obrigação, ainda mais se tratando de sementes.
Segundo Peske (2013), a qualidade das sementes pode ser afetada por diversos fatores: genéticos, fisiológicos, físicos e sanitários. O mercado de sementes é exigente e muitos dos produtores já estão adequados a estas exigências, elevando os padrões mínimos exigidos por lei para padrões de melhor resposta ao campo, ou seja, maior diferencial de produtividade quando se compra sementes de maior qualidade.
A questão sanitária ainda tem muito o que ser desenvolvida para culturas como soja e trigo. Os efeitos da sanidade de semente se caracterizam pelo efeito deletério, provocado pela ocorrência de micro-organismos. Esses patógenos ocasionam baixa germinação, baixo vigor, redução no estande e redução de rendimento. Atualmente, existe pouca legislação sobre patologia de sementes. A comercialização com laudos não é questão obrigatória, pois ainda não existem padrões máximos de incidência de patógenos definidos.
Sr. Mario José Basso, cofundador da Apassul, foi quem iniciou a produção de sementes no ano de 1970, onde hoje a empresa Sementes Com Vigor está localizada, com sede no município de Muitos Capões-RS e uma filial em Esmeralda-RS. Dando continuidade ao trabalho de seu pai, o Eng. Agrônomo Raul Basso foi um dos pioneiros do plantio direto, destacando-se na técnica da rotação de culturas, e realizando ciclos de rotação de até 8 anos com 9 culturas entre inverno e verão.
A disseminação de doenças via semente é um problema sério e atinge diretamente o custo e potencial produtivo da lavoura. A fonte de inóculo presente no início da lavoura faz as aplicações fúngicas necessárias mais precocemente. Ao visualizar esta questão técnica e econômica, a Sementes com Vigor iniciou trabalhos tentando reduzir este custo e assegurar o potencial produtivo da lavoura.
A rotação de culturas complexa, baseada em gramíneas tanto no verão quanto no inverno, reduz a fonte de inóculo proveniente da palhada. Desta maneira, elimina-se uma forma de disseminação dos fungos necrotróficos e o alvo para controle de doenças, que são fontes de inóculo via semente e pelo vento. Afinando mais as avaliações, a empresa começou a realizar testes de patologia nos lotes para uso próprio, visando realizar um tratamento de sementes (TS) específicos para os fungos presentes na semente, de modo que inicie a produção totalmente zerada de patógenos.
Na safra de trigo 2015, este trabalho se mostrou muito eficiente. A partir dos laudos de patologia das sementes, foi realizado TS específico para os micro-organismo, utilização de área em rotação com 6 anos sem cultivo deste cereal e avaliações periódicas de monitoramento de doenças com cálculos de limiar de ação. Com estas ferramentas, foi possível retardar a primeira entrada com fungicida para 65 dias de cultivo. A variedade de trigo que estava sendo cultivada era moderadamente resistente à ferrugem (disseminação pelo vento) e às fontes de inóculo de outras doenças como Drechslera tritici-repentis (mancha amarela) que, em grande maioria, vêm dos restos culturais e via sementes que estavam com baixíssima incidência, quase nível zero. Este trabalho demonstra que utilizar sementes de maior sanidade não só assegura o estande e potencial produtivo da genética proveniente da semente, mas também reduz custos.
Por meio desse resultado, a Sementes Com Vigor iniciou um projeto de sementes Premium, com laudos de sanidade para atestar que a rotação de culturas utilizada e o manejo diferenciado têm gerado sementes com menores índices de patógenos. Como exemplo, a tabela 1 ilustra a porcentagem de incidência de fungos nos lotes de sementes de soja produzidos quando o cultivo do ano anterior daquela gleba foi milho (Com rotação – milho/soja) ou soja (sem rotação – soja/soja). A utilização dos diferentes testes de patologia como Batata-Dextrose-Agar(BDA) ou rolo de papel (papel) são para direcionar melhor os tratamentos posteriores, pois alguns testes possuem melhor sensibilidade para determinados patógenos.
TABELA 1. Patologia de lotes de sementes de soja com teste BDA e rolo de papel para áreas com realização de rotação de culturas (Milho no ano anterior) e sem rotação (soja), com e sem tratamento de sementes com fungicidas.
De acordo com a tabela 1, identifica-se que os lotes produzidos em áreas em palhada de milho atestam melhor sanidade que os lotes produzidos em áreas de monocultivo de soja. Fungos como Fusarium spp. e Cercospora kikuchi ilustram bem os benefícios da rotação, pois em áreas sem rotação encontra-se maior incidência quando comparado em áreas com variação de cultivos.
Esses resultados em parte demonstram que sementes produzidas em áreas com rotação geram produtos com melhor sanidade. Para se obter resultados positivos com a rotação, é dever do sementeiro controlar as pragas e doenças ao longo do cultivo, assim o monitoramento e a correta identificação de fungos vão gerar sementes mais sadias. A Sementes Com Vigor tem parceria com laboratório agrícola Agenda Fitossanidade de Passo Fundo, que recebe semanalmente amostras de folhas das áreas de produção de sementes e identifica e quantifica a incidência de doenças como ferrugem e outros fungos para auxiliar na tomada de decisão. Dessa forma, o uso de produtos químicos é racional, pois é baseado em níveis de incidência para calcular o limiar de ação. Nesse contexto, utiliza-se o agroquímico mais indicado para a doença identificada.
A rotação é utilizada com culturas e também com ingredientes ativos. A variação de espécies cultivadas faz com que os herbicidas utilizados sejam de diferentes grupos químicos e mecanismos de ação, reduzindo a incidência de plantas daninhas resistentes. Para fungos também procura-se ao máximo não repetir aplicações em sequência da mesma estrobirulina e triazól, de modo a evitar ao máximo a perda de sensibilidade dos fungos aos fungicidas presentes no mercado, pois esse cenário pode vir a acontecer também com fungos transmitidos via semente.
Atualmente, a Sementes Com Vigor trabalha com as culturas de soja, feijão e milho no verão, e no inverno as culturas de trigo, trigo mourisco e nabo forrageiro, cevada, aveia preta e aveia branca.
Para estabelecer a melhor forma de produção de sementes de soja, feijão, trigo, aveia branca e preta evitando misturas, o quebra-cabeça é complexo. Assim estabelecemos a sequência ilustrada na imagem 1:
Imagem 1. Rotação da Sementes Com Vigor.
Dentro desse esquema, a propriedade é dividida em cinco partes. Diferentes lavouras compõem cada parte, chamadas de glebas. Cada gleba ocupa 20% da área.
A diversidade é a essência dos cultivos da Sementes Com vigor e o trabalho de quase 40 anos trouxe know how na produção de sementes com alto padrão fisiológico. Trabalhos com questões sanitárias exigem muito auxílio da pesquisa, pois o projeto de Sementes Premium terá uma recomendação personalizada no tratamento de delas. Para entregar sementes com laudos de patologia quase zerados, é necessária a utilização de fungicidas específicos e com doses que controlem as quantidades identificadas nos testes de patologia. Esses trabalhos estão em andamento em parceria com entidades idôneas como a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Com isso, teremos mais resultados ao longo das safras.
Nesse primeiro ano do projeto, os tratamentos realizados nos lotes escolhidos praticamente zeraram os fungos, e conforme o local de venda dessa semente, é adicionado fungicida específico. Um local com problemas de umidade, por exemplo, pode ocasionar maior ocorrência de Phytophthora sojae, um fungo não transmitido via semente, mas presente em solos encharcados. Por isso, nesse caso, variedades resistentes e TS específico são requeridas. A redução dos fungos presentes na semente e proteção contra os fungos do solo conseguem assegurar o alto potencial fisiológico das sementes, e como consequência temos expresso o seu máximo potencial genético.
O desafio é mostrar ao agricultor os benefícios de sementes com diferenciais e valorizar este tipo de produto, pois o mercado de semente tem como maior concorrente a semente salva e pirata, que realmente não apresentam nenhum tipo de padrão nem segurança. A disseminação de doenças via semente é um problema sério.
Conhecendo e atestando a sanidade da semente, podemos utilizar fungicidas específicos e com doses corretas para os patógenos identificados, assim, é possível até reduzir custos, pois sementes mais sadias podem necessitar menos tipos de fungicidas ou até mesmo trabalhar com a dose limiar mínima indicada pelo fabricante do produto.
A Sementes Com Vigor acredita no uso racional de produtos químicos e que a diversidade de cultivos traz sanidade para o solo e ambiente.
Autores – Eng. Agrônomo Pedro Basso e Eng Agro. Evandro Zacca Ferreira.
Referências bibliográficas:
PESKE, S. T. ROSENTHAL, M.D. ROTA, G.R.M. Sementes: Fundamentos científicos e tecnológicos. 1 ed. Pelotas, RS. 2013. 415p.
HENNING, A.A. Patologia e tratamento de sementes: noções gerais. ISSN 1516-781x; n264. 2 ed. Londrina: Embrapa Soja. 2005. 52p.